segunda-feira, 31 de agosto de 2015

em tempo...

gosto das segundas
de ares nonsense, blasé
de cara amassada
e ressaca

mas pronta
de vassoura nas mãos
de salto alto e batom
ou jeans surrado

deixando a primeira
no ontem e no chão
afinal, quase sempre
era ilusão...

domingo, 30 de agosto de 2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

vultos


ah, esses
tapas na cara
sem dia
sem noites
marcados

vêm
no sopro
do agora
como fuligens
de agosto

e macabro
é o gosto nos olhos
sem saberem-se cinzas
abrem e fecham

choram...

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

alcunhas...

quantas vezes eu te disse
meu nome não é maria

não tenho vocação
para cercas e ladainhas

se queres bem saber
não sei quando me chamam

alguns um nada dizem
outros nem me alcançam

entre terços, flores e facas
sou um substantivo errante

ora sou pedra
ora sou mutante

sábado, 22 de agosto de 2015

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

o pão nosso...



dias sins
dias nãos

dias solas
dias mãos

dias cinzas
dias vãos

dias vísceras
dias coração

dias de vazios
dia de cão

( de rua )

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

além...

quando
canso-me
das portas

busco
as janelas
dos olhos

e por elas
conduzo
minha alma

para fora..

terça-feira, 18 de agosto de 2015

inércia...


tenho comigo
dores de um umbigo
que teima e teima
não ter nascido

qualquer passo
de balet ou em falso
rasga-me pele e carne
em volta de minhas fibras

em útero materno
tenho fome e gana
de devolver minhas
gastas raízes...

mas inerte
tal qual um marionete
e como um estéril verso
deixo para outros, meus fios

minhas rimas...


domingo, 16 de agosto de 2015

escusa

entre  nuvens
espera ansiosamente
acender-se,  a lua

e eu, entre luzes
escureço a sete chaves
meus absurdos...

mas com eles
não mais luto

e deles
não mais fujo

abuso...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

lonjuras....


no vai e vem
das páginas

o cansaço
das pálpebras

e de outros olhos
a falta

dos teus...

terça-feira, 11 de agosto de 2015

hein?


e se eu quiser
ir além, bem além
você vem?

se eu afiar
palavras ou criar
delas as larvas

se ao sol
lamber o gume
das metáforas

e ao relento
cultivar o hálito
das entrelinhas

se eu chafurdar
em brancas folhas
e tirar delas, o limo

e suicidar-me
entre vocábulos
e rimas...

você vem?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

desditas

nos lábios, o carmim,
dos  tantos caminhos
e um gosto de bilis
no riso ainda vivo

um sempre sem asas
um nunca tão sádico
numa carcaça muda
e sem vestidos

precisa mais?

cacos


quisera
ter nascido
em dia
de lua cheia
e vadia...

esquecer
a louça na pia
e a falta de
esmalte
nas unhas

mas
devo ter
minguado
um par de
fases

dos copos
e dos pratos
levo jeito
para lavar
os halos

e juntar
os pedaços...

sábado, 8 de agosto de 2015

urgências...

escrevo como se...
parte de mim em letras
escorresse

e se
me perguntam qual delas,
se olhos, mãos ou garganta

respondo
aquela que de mim
esconde-se...

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

que maldade...


cortaria
dos pulsos
os nó cegos
dos muros...

e com
o sangue
abriria  as veias
do absurdo...


para ouvir
da poesia
os urros...

vendas


de mal
com a poesia

quatro paredes
e um destino

não ler das estrelas
e da lua, a bula...

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Guerra e Paz


Há alguns anos li Guerra e Paz de Leon Tolstoi. Numa era onde não havia internete, celulares, tabletes e similares. A leitura para mim sempre foi algo prazeroso e não um antídoto para o tédio. Ler era a prioridade e não opção.

Com o decorrer dos anos, a rotina, os dias, os problemas, infelizmente o tempo dedicado à leitura foi diminuindo. Hoje tenho me policiado. Menos internete, menos tempo gasto com coisas ou pessoas que não me interessam me renderam horas e horas onde posso deitar e descansar meus olhos ao lado de autores como Leon Tolstoi e outros.

Por que hoje paro para escrever sobre Guerra e Paz? Por que hoje ao invés de dedicar parte do minha noite às poesias ou à leitura, coçam-me os dedos desejosos de discorrer sobre um mundo existente entre páginas e mais páginas? Pelo encantamento em que me encontro na releitura desse magnífico livro e pelas considerações que me obriguei a fazer sobre o tempo, os passatempos e a perda de tempo...

Quanto ao livro, a edição que possuo é  dividida em quatro volumes. Talvez tenha sido esse um dos melhores presente que já me deram. Grata surpresa, já que veio o presente de um sobrinho.

De minha primeira leitura guardava lembranças da neve, das personagens, dos nomes, dos conflitos humanos em uma época que me parecia remota e hoje me parece mais remota ainda. E mesmo que trate o livro de um tema como a guerra, há nele algo de mágico. Talvez esteja no talento do mestre Tolstoi prender seus leitores através de fios invisíveis, ora manipulando a ingenuidade de suas personagens, ora escancarando seu lado vil em meio a um cenário que oscila entre os campos de guerra e casarões e salões de uma Russia em transformação.

Enquanto não findo sua releitura, pairo assim entre dois mundos.  O de Tolstoi e o real. E isso me leva a pensar em Pedro, em Natasha, em Nicolau, em Sonia, André, em Napoleão, em Alexandre, em imperadores, em condes, em príncipes, em hussardos, cossacos... E o mundo virtual toma assim sua devida proporção. Escrever sim, ler sim na web, mas dentro do que eu me proponho e não do que me propõe a web.

Guerra por guerra, sou mais Leon Tolstoi, a guerra de egos que permeia as conexões e contatos do mundo virtual não me desperta interesse. Nessa não encontro o outro lado da moeda, o da Paz.

É isso. 



tropeço


nem
sempre
o verso
nasce

às vezes
num
contratempo
é quase...

terça-feira, 4 de agosto de 2015

inúteis


tantas palavras
perderam o prazo
de validade

e hoje, verdes
cheias de mofo
e de ranço

sem meu colo
e sem teus olhos
não mais sangram

domingo, 2 de agosto de 2015

sombras

há de arder
entre os dentes
a palavra
semente

tímida
de ser ouvida
instigar-se
entre os dedos

fingir-se
um verso
um espectro
uma névoa

tocar-te
o arrepio, a pele
os nós
os pés

fazer-se
penumbra
penugem
nuvem...

envolver-te
sem que saibas
de onde vem
tuas vertigens

e amar-te
entre ais
em segredo
uma vez mais

sábado, 1 de agosto de 2015

parto

se queres partir
parta

parta
como filho escorrido
em meio às coxas
sem ser parido

se queres partir
parta

parta
como membro amputado
em meio às valas, sem nome
sem lápide

se queres partir
parta

parta
como um erro drenado
em meio às facadas
das palavras

gorjeta


e na sarjeta
no vai e vem
dos pés

caem
no chapéu
da poesia

mil e
uma letras...