quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

sujo

onde latem os cães
mordem e moram manhãs
dores com gosto de maçãs

que dos cães
não é a culpa, sentem
relatam, feridas, sem cura

no uivo, onde o sol
surge, há o arranhar de unhas
lamentos à vidas que urgem

se das maçãs
é o engodo, do gosto
são as dores em vermelho

se dos cães
são os lamentos, da manhã
são as dores em carne nua

se do sol
são os uivos, das unhas
são as vidas que urgem

e surgem
e urgem
e surgem
e uivam

sujam-se...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

dos erros...

Porque andava cansada de mim mesma, resolvi me dar um tempo. Desci no primeiro ponto, à primeira página do dia. Entre as letras já escritas e àquelas a serem debulhadas, a dúvida: Contentar-me ao rodapé ou fechar de vez o livro. Não me caberia ouvir nenhuma outra pessoa, não me caberia nem ouvir a mim mesma.

Cansada, cansada de todas as minhas desculpas, de minhas letras, das mesmas músicas, da luta...
Nem ao rodapé, nem fechar o livro.  Fechar implicaria em reabrí-lo em qualquer momento. Ao rodapé, de joelhos,  espiaria ainda que não estivesse no meio da folha.

Já conhecia esse roteiro, já conhecia o desfecho. Bobagem insistir, em protelar o inevitável, ainda que fosse para alguns memorável  assinar o epilogo.

Mas, o livro existia, estava ali incrustado à minha carne, tatuado em minha alma. Se resolvesse folhear suas páginas talvez encontrasse algum trecho que tenha me passado desapercebido. O que acho quase impossível. Não, não adiantaria insistir ali entre as letras  acariciar, chorar ou sorrir.  Tudo terminaria no vácuo e sem eco. Novamente. Ideia mentecapta querer ler o que já havia escrito.
Não tinha esse vício. Não teria esse vício. Escrito estava, nem o tempo, nem os dedos modificariam os dias e as palavras.

Restava decidir-me em continuar nesse conto que ninguém aumentava um ponto ou desistir. Palavra de alto teor: desistir. Pensemos em  outra menos catastrófica, menos piegas, apelemos para um expressão em uso: "Mudemos o foco". Não desistir, mudar.

Mas eis-me de olhos fixos no mesmo parágrafo que em labirintos vai e volta, vai e volta, não solta-se, não sobe, não desce, não vive e não morre. Vai e volta. Esse parágrafo de uma nota só, toada em mantra, quase  um vômito a engolir de mim a vontade de chutar essas letras e seguir outra prosa. Como se pétala seca e sem cheiro  fosse estaquei em meio à folhas verdes, cheias de fungos e musgo e não me mudo. Espero, espero, espero... Ninguém aparece para debulhar essas páginas e derrubar-me ao chão livrando-me dessa incômoda paralisia do orgulho.

Lembro-me sem a nitidez necessaria de ter descido degrau a degrau  palavras antes desse encravado capítulo e em ato falho ( novamente desculpas esfarrapadas uso ) cá estou como uma mariposa debatendo-me de encontro a luz até que ceguem-me os desejos e queimem-me os erros. Maldito livro, maldito capítulo.

Não desço, não tranco esse livro meu, não guardo-me, não descanso em rodapés, desisto de mim mesma, dou-me as costas, dou-me o desprezo. Não ao espelho, não aos meus apelos. Desisto. Encalhei nessa lama desse drama. Nem portas, nem janelas enxergo. Minto e minto cada vez que digo que a luz no fundo do poço é minha. Tenho medo, acovardo-me, fujo. Não há em mim nenhum rasgo de dignidade que me impeça de entre as linhas de minhas fissuras plantar tantos erros... Leio-me, absurdos teço, não mudo o foco do texto.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

19

ouço no vento
as engrenagens  do tempo
rangendo os dentes

derrota

tem de mim o gosto da derrota
nessas minhas sobras, tão rotas
nessa minha língua, sem resposta
nesses meus olhos, absortos

são perdas, são pedras que carrego
amarro e não deixo pelo caminho
e em minhas costas despejo passos
em pretéritos em vias de parto

e nada fica, nada vai,  nada vem
numa vendaval mudo e estático
prendo-me em falsos casulos
afasto-me da água morta e limpa

e se morro de sede
embrulhada em minhas palavras
envenenados entre verbos  e frases
perecem os dias de minhas metáforas

amorroto meus sonhos
desgosto meu ventre
apago minhas cruzes
derroto-me...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

castigo

se eu não me mexer
se fingir que não vejo
talvez não doam e pereçam
minhas poesias e desejos...

se eu em estátua
em água verter-me
talvez salve  meu sal
e cicatrize meus erros

mas se teimosas
minhas palavras, trairem-me
e arrepiarem meu ritmos
desmancharei-me em vida

num esquartejamento dos olhos
serei minha carrasca, meu deboche
e no riso que lambe o chão que piso
deitarei minha alma, sem rimas...

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Disciplina...

Tenho pensado em deixar as poesias de lado por um tempo ou não dedicar todo o meu tempo a esse prazer  e debruçar-me sobre os contos e crônicas, algo mais concreto, menos lírico.  Falta-me disciplina, a mesma disciplina ausente em outras áreas de minha vida. Trabalhos manuais inacabados. Promessas suspensas. Gavetas abarrotadas de desculpas que já não aguentam-se sozinhas. 

Escrever poesias, poetrix, haikais é para mim um gosto, quase vício. Divago, não tenho regras ou metas. Simplesmente escrevo. Mas sei que são metáforas de minha propria vida. Essa vida que venho enrolando, que venho chutando pra lá e pra cá feito uma estrela que caiu aos meus pés, que pés? 

É  de suspirar essa minha dificuldade em sair do lugar e atrelar o tempo e dizer:  "Estou no controle, vamos." Sem que ele estremeça de medo de minha subjetividade. Mas cá estou entre um site e outro e comemoro, escrevi de madrugada sem ser um poema à insônia. 

Não, não, não estou desmerecendo as poesias. Estou  me policiando, começando por controlar minha compulsão pelos versos e estendendo-a outros textos. Acredito que seja um bom começo esse.
Num texto anterior escrevi sobre almejar algumas mudanças. Não esperarei  pelo aniversario. Ou tentarei não esperar. Fixar uma data ainda que não muito distante, parece-me que seja mais uma forma de protelar e adiar um movimento  para onde quero ir. Mais do que  crônicas e contos, preciso administrar-me com mais segurança. Não estar à deriva como tenho feito.

Estou tentando, estou tentando... Quem sabe um conto ou uma crônica por semana esteja de bom tamanho para que torne-me mais racional, mais equilibrada. 

É isso...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

eu sei...

eu sei do que ele gosta
sei das suas propostas
conheço suas respostas

eu sei, o que pensa
sei que não tem pressa
conheço dele, as mazelas

eu sei o que não posso
sei dos meus desgostos
conheço dele, outros rostos..

sabendo disso tudo
ainda assim não fujo
ainda assim me iludo

e sabendo que isso é pouco
ainda assim, dele, rezo o nome
ainda assim, dele, velo, o sono...

e a ele, lanço versos
mostro minhas estrelas
espero sóis e letras

e dele, pinço madrugadas
finjo outras cascas e palavras
sigo rastros, junto cacos...



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Dos pesos...



Mês que vem faço aniversario. Mais um. Só mais uma pessoa a acumular anos, a encher gavetas e a cansar a carne no dia à dia em que nos enfiamos desde que somos concebidos. Já tive dúvidas quanto ao momento em que passamos a existir. Hoje, sei que nossas vidas são vidas desde o primeiro minuto que deixamos de ser óvulo e espermatozóide para sermos um ser único. Desse ponto passamos por fases e mais fases, ciclos e mais ciclos até que deixemos a carne novamente. Esse depois, é misterio. Vejo, pressinto, mas certeza... Quem a tem?

Não gosto de datas comemorativas, Natais, Páscoas, Anos Novos... São fardos a carregar, fardos abertos nas datas aclamadas e embrulhados de novo. Trancafiados e longe dos olhos até o próximo ano. Pesam e pesam em armários já abarrotados de gritos, sorrisos, cobranças, desafios e tropeços...

Mas farei aniversario, mais uma vez... Se pudesse ausentaria-me de mim mesma nessas vinte e quatro horas marcadas em uma única data em meus anos para acordar e nascer mais velha no dia seguinte. Mas não será possível. Resta-me desde já começar a me programar e esvaziar esse fardo para que no ano seguinte pesem menos meus erros e meus lixos escondidos em minhas frestas.

Amamentei-me da vida, e eis, que por mais que debata-me sou o fruto de minha concepção, da concepção de outros e da concepção que agarra-se às minhas costas enfiando-me goela abaixo o que chamam de destino. Mas há coisas que posso fazer. Posso cuidar da concepção que meus olhos têm e algumas vezes não revelam-me do que faço, do que deveria ter feito, do que fingi que tentei fazer e do que realmente fiz. São minhas escolhas. Não há mais tempo para fugir do miolo de certas escolhas. Escolhas que de tão erradas estão a esfarelar-se na tentativa minha de salvar o que não tem salvação aumentando assim o peso de meus fardos.

Tão apaixonada sou por algumas dessas escolhas  erradas e obesas que desde já sinto fome e sinto o peso da abstinência, mas sei que são necessarias. Não cabem mais em meus porões o vômito  caído de minhas frestas sobre minha alma... A carne debate-se, mas essa minha alma precisa de um banho e de um regime. Quem sabe, sinta-se mais uma vez parida novamente... De olhos recém nascidos e limpos, sem máscaras.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

das secas...


em noites frígidas 
pedaços de palavras rasgam-se
e morrem, sem da poesia, ter abrigo...

domingo, 10 de fevereiro de 2013

rito...

porque de erros em riste
marcham minhas letras
fúnebres, com caras e facas
de poucos amigos, riem...

não as censuro,  faço
o mea culpa, absurdo
crer ainda nas palavras
que espasmam-se nuas

mergulhadas palavras
num tempo sem cura
numa crônica vazia
num verso sem rima

nessas palavras vadias
enredo-me eu em punhais
não os meus, os teus,
mais vis, mais viscerais...

e acordo dependurada
num fio de entrelinhas
sem sóis, sem rimas
equilibrista em ruinas...

sem quandos ou porquês,
despeço-me de minhas letras
ao suicídio, mudas caminham
sem eco, sem filhos e sem espelho...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

flagrante...

num lapso da saudade
recém costuradas cicatrizes
abriram-se em feridas...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

eclipse...

fecham-se os pássaros
fecham-se os sóis
fecham-se as vozes

lamenta o cão
a anunciada solidão 
travam-se as mãos

choram as lágrimas
pela poesia ainda
não amamentada

fecham-se as horas
fecham-se as palavras
fecham-se os olhos...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

flerte

entreolham-se as palavras,
 concreto e abstrato, 
     enlaçam-se...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

infinito...

os gritos que em nuvens morrem
caem em dormência nas portas
e das janelas  abertas escorrem

nesses dias em que tudo é misterio
nem telhados abrem-se  ao espelho
e tentáculos do tempo encolhem-se

há entre o céu e o inferno
estrelas penduradas em árvores
luas adormecidas em tardes

eram do ontem as esperas
são do hoje palavras e ressaca
paradoxos em mesmas horas

fossem das nuvens vivos sussurros
deitariam em redes de desejos
dias, meses, anos ainda in vitro

posto que são, mortos
nesse purgatório do tempo
eternos rastejar comem

infinitos joelhos, dobram-se
numa prece sem cor, sem volta
num cinza labirinto dos olhos...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013