quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

à deriva

e sobram-me as mãos
essas sem o pouso do afago
qual folhas secas ao vento

sem paz e sem cais
à deriva entre tantas tormentas...

sábado, 7 de dezembro de 2013

enclausuro-me...

num ponto cego
teço de dentro pra fora
versos do avesso

e no pó das entrelinhas
liberto o que não foi escrito

tantos e tantos, erros
em segredo, sem algemas
fogem, enfim, sem mim...

sábado, 30 de novembro de 2013

moscas...

moscas
tão nossas
tão moças

toscas
asas destroem
no grude do fogo

sem fôlego
só olhos
e bocas

dizem
ser pouco
uma morte

e voltam ser ovos

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

vida

havia verdes pios
entre árvore e penas
na tarde poema

não eram ainda voo
não eram ainda inteiras
as asas tão tenras

um ensaio
de bicos e olhos
num ninho de folhas

alheios às horas
pequeninos pássaros a vida
comemoram...




quarta-feira, 27 de novembro de 2013

ímpar...

e o vazio
destila a dor da poesia
que míngua

seca
não muda
não surda

sem elo
sem reflexo
e única


surta...

na palavra
que grita
sem eco

sem resposta
sem janelas
ou portas

sem verso
sem rima, morre...
estéril

terça-feira, 26 de novembro de 2013

do tempo


debocha no espelho
esse  grito da face
tatuado em silêncio

silêncio tão cúmplice
de um artista sem culpa
de um artista mudo

a caminhar por luas
sóis, lençóis e chuva
num passo que é tudo

só ida, sem volta
sempre do fim, uma busca
sempre enganando o futuro

é esse tempo
que acolhe e destrói
que engole e constrói

afoga e afaga
alimenta e come
tantas palavras

é esse tempo
a beber da carne
o suco e sumo...

num reflexo perplexo
a mostrar minhas fases
em suas garras e unhas...



sábado, 16 de novembro de 2013

das pedras


há dias em que tudo pesa
tudo cansa, de um nada tão cheio
de um vácuo repleto de espelhos

em  letras inteiras tropeço
e,  meias palavras, arremesso

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

das perdas

há um tanto de horas
onde as flores não abrem-se
onde só pétalas secas
riscam o agora

numa síncope dos olhos
um tempo suspenso, cala-se,
e a espera sem ida ou volta
suspira em  um único nome

perdem-se passado e presente
na linha tênue desse hoje tão oco
numa primavera que só existe
tão distante e lá fora...

e vem o cheiro
e vem o gosto
nessa saudade
sem toques...

há um tanto de horas
onde um estéril silêncio conspira
com quem já foi embora


sábado, 9 de novembro de 2013

24

vozes ao longe
embalam o sono da tarde
sussurram os pássaros

e sonham as árvores

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

sem pressa


hesita a primavera
ainda nos braços do inverno
esse amor tardio

pede ao sabiá
a trilha sonora, ronrona
demora, ela, a primavera

esquecida da labuta
de amarelo o dia não pinta
só quer cinza e cinzas...

tão vadia
nega o quente do hálito
esconde o vermelho dormente

é primavera
perdeu-se entre os beijos
de tão frio amante

indecente...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

arde

estranho
sentir a palavra falha
no verso que fala

e... sem saída

num soluço
afogar  letra à letra
o que já foi, história

estranho
o naufrágio das chamas
na poesia que arde

e sem entrelinhas

arde
e arde...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

do saber

pingava
feito fio
feito arrepio

cerzia
feito letra
feito leito

embaraçava
as costas no beijo
e a língua na poesia

maestria

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

23


inquieta segunda
entre o vai e vem das portas
apressa as horas

domingo, 20 de outubro de 2013

insípido...


lamento o verbo
esse que asas, enverga,
e cala-se, inerte...

sem rosto
sem resposta
sem restos

só uma palavra
sob um céu de nadas
sobre um solo infértil...

e nasce
e morre
sem ter nome...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

despedida

já não me servem
as palavras de sempre
visto-me de instantes

e
na inconstância
rasgo o que foi ontem...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

22


1.
ensaio de vida-
tantos gorjeios à deriva
em meio ao cinza

2.
esperando o sol
esconde-se a primavera
sob o manto da chuva

3.
acalentam-se os olhos-
entre as águas do tempo
florescem cores

terça-feira, 1 de outubro de 2013

miragem


ontem doíam-me as entrelinhas
hoje, doem-me as palavras
essas a extirparem os quases

amanhã, quiçá, uma poesia
rouca e perdida nas contas
grite fora do tempo, saudades

e... me lembrarei

dos erros nos versos
dos erros nas metáforas
dos tantos "quem sabe"

assim

responderei à poesia
esqueça, não foi nada

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

primavera


coberta de névoas
tal qual sinuosa virgem
debuta a primavera

um beijo do sol, espera



domingo, 22 de setembro de 2013

ouço...


ouço a morte
na boca da vida

ouço facas
na mentira que afaga

ouço o veneno
no doce da lingua

ouço um caminho
que foi e não volta

ouço dos olhos
a lágrima que sabe

e penso
e páro...

e ouço enfim
um pouco de mim...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

descaso

há  muros
cercando  palavras

onde andarilham os olhos
buscando uma fuga

e um nada acontece

há uma face, lá fora
de tijolos, cimento e facas

onde em riste
nãos florescem em chaves

e um nada oferece...

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

solidão...



estende-se um abismo
insinuando a solitude de minha poesia
entre meus versos e teus ouvidos

silenciosamente e sem tua rima
despeço-me de páginas ainda virgens
despeço-me de promessas caídas

não há de ser nada
não há de ser lágrima
não mais e tanto faz...

se a solidão é minha
à ela dedico meu hoje e minhas palavras
à ela dedico ecos e metáforas

e ela, em agradecimento
abraça-me...

almma

sábado, 31 de agosto de 2013

ponto

e se eu amo
amo tanto
amo quanto
amo in cântaros

não sei ser pouco
só sei ser farta
e faz-me falta
um sempre

se é do quase
se é minguante
decresço, descreio
não sei, ser meio

não amo
aos trancos...
amo e pronto
e ponto.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

quem sabe...

e se fosse dos lábios
a palavra que fere e mata
cegaria meus ouvidos
entre névoas  e delírios

não é....

é nas entrelinhas
dos olhos, das sombras e dos dias
onde semeiam-se metáforas
que colho a palavra adaga

e dela, bebo
e dela, alimento-me
e nela engulo-me
e nela agonizo

dúvida
dúvida
dúvida

terça-feira, 20 de agosto de 2013

só...

não há poesia
nessa volta minha
ao casulo

se entrelinhas regurgito
são de estranhos versos
dos quais, fujo...

palavras
sangram garganta adentro
e abortam-se sem rumo

nem em olhos
nem em sonhos
nem em sono

só...

voa e voa
sem mim, a poesia...

sábado, 22 de junho de 2013

inverno

escorre
líquido amniótico,
entre os ossos das árvores
sobre a lápide do outono
brota o inverno

e na posse 
de corpos e do tempo
leva o que foi ontem,
lava o que foi verde
esfria o que foi quente

em dedos muitos
traz o arrepio do abraço
arrepio que trinca os dentes
e sem pressa, sem vestes
planta na boca, o silêncio

e se nada além quisesse
mas quer... e quase mudo
rasga a pele do orvalho
numa gota ainda viva
derrama seu sêmen 

em gelo, geme...



domingo, 16 de junho de 2013

fuga...

a foice
a face
sulca

a faca
a fruta
suga

o fogo
a folha
sepulta

na fagulha
a fuga
surge...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

silêncio

há na palavra ainda feto
o embargo dos dentes, da lingua
da voz, do medo... ( da resposta )


quinta-feira, 6 de junho de 2013

devoção...

inocentes folhas
ao vento entregam suas vértebras
quebram-se, esfarelam-se

ainda assim,
a ele devotam suas almas
e em seu mãos, morrem...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Poesia...

e se não for vadia, indecente
promíscua não há de ser poesia
as palavras que perfilam-se frias

a poesia?

há de escorrer quente pelos dedos
em folhas brutas, brancas ou sujas
inebriar josés, judas,  genis e marias

e em noites e em dias, gritar
a olho nu seu corpo ardente
por mãos sedentas de entrelinhas

insaciável prostituta
no exercício de sua essência
em leitos amigos e inimigos, deita-se

por gosto, com gosto
não esgota-se, não medra-se
adapta-se ao gênero, ao sexo

ah, poesia...

tão mãe, amante, filha
ainda que tenha dono
bebe de outros vinhos

bem-me-quer, mal-me quer
baila e fala, às vezes é retrato...
e... com almas,  acasala-se

chora, ri, amaldiçoa, dói
doa-se, abençoa... enfurece-se
ama, ama e ama...

sempre pura, poesia...

terça-feira, 4 de junho de 2013

covardia...

tenho trancado meus sonhos
em gavetas de erros, deles um medo
encarar de frente, meus segredos

em noites negras, ouço-os
intoxicados de nãos, vivos ainda
imploram um fim, um sim...

um sim de mim?
um sim quase fóssil?
um sim sem fim?

ignoro-os,
tão pouco, em cacos, tão pó
nada faço, nada posso, afasto-me

alcanço, logo ali,
os calcanhares do dia (que zombaria )
a susurrar-me baixinho, covardia...


domingo, 2 de junho de 2013

é...

é da dor o crepúsculo
o nó no peito, a cor escura
olhos que já não buscam

um nada  junto a outro nada
mãos dadas num fio que separa
e... na boca, palavras fantasmas

é da alma, o crepúsculo
é no espelho, a luz apagada
é da carne, a morte, anunciada

silenciosa morte
num átimo do que não houve
num quase ainda vivo, estica-se

é da faca o crepúsculo
sangria em tons púrpura
num tempo, que sempre, urge

quarta-feira, 29 de maio de 2013

instinto

e vem a lingua do vento...
desembaraça, acaricia, arrepia
e elas, as folhas, gritam

terça-feira, 28 de maio de 2013

penas...


destemperado outono
em pele e em pólos se alterna
ora deus, ora verme

no meio do caminho
entre o verde e o amarelo
tira os sapatos, esfarela-se

nem é ontem, nem é hoje
pendurado nos ossos das árvores
enfia-se na língua dos pássaros

pia, o outono, pia...
sob as lágrimas do tempo
estica suas asas e chora...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

pa la vras...

marcham palavras minhas
rumo ao caos, rumo ao abismo
rumo ao cinza, rumo aos ais

marcham
e voltam...

no abraço da língua ( que cala-se)
no beijo dos dedos ( em lágrimas)
na letra muda ( que fala )

voltam...
tortas, mancas e cegas

em linhas
 em versos
 em poesia

domingo, 12 de maio de 2013

21

no colo das mães
entre vidas, idas e vindas
adormece o domingo

segunda-feira, 29 de abril de 2013

ao nada...

enquanto passeiam meus olhos
esvai-se o tempo, o tempo do outono
o tempo dos sonhos, o tempo lá fora

escorrem-me horas...

sexta-feira, 12 de abril de 2013

uiva...

e uiva a noite tão longa
com se viúva fosse, a noiva
ainda verde, prematura-se

num canto, seus pés acesos
pisam os filhos,  do medo...
ventres insones, segredam

nos céus, azuis do avesso
suas mãos cheias de letras
em nuvens plantam espelhos

e uiva, e ainda assim uiva
tão noiva, tão morte, tão vida
em pés, em mãos, em ventres

uiva a noite...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

e...

se me falam as letras
é dos olhos, a língua
a tecer delas, o som...

domingo, 7 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

peco...

das palavras que se vestem
fogem-me os olhos, anseio outras
adentro, sempre adentro dos retalhos

à cada pedaço delas, aboncanhado
mais fundo desço, mais negro bebo
e mais doem, mais ardem, mais caem...

e se não há costuras, vestes
nem ritos, nem anéis, nem laços
não há rezas, preces e esperas

e em letras, peco...

quarta-feira, 27 de março de 2013

morro...

se vertessem sonhos as paredes
pereceriam de sede e secas,  as minhas...
onde bato e rebato tão somente escárnios

dessas tantas pústulas em vida
a arrastarem-se em busca de janelas
sangro eu, dos seus gritos, outros ritos

e se sangro, e se bebo, e se verto
derramo o preço, afogo das letras
esses ousados olhos de desejos

presa em passos que não se acabam
nem portas, frestas ou réstias restam-me
pobres paredes, pobres letras, esperam...

e morrem e morro...

quinta-feira, 21 de março de 2013

boicote...

há noites em que sou colo,
de minhas poesias que sangram,
palavras protejo

não escrevo...

segunda-feira, 18 de março de 2013

simples...

e então te deixei assim
enterrado, ao meio, sem fim
sem paredes e janelas, sem mim...

sábado, 16 de março de 2013

saudades...

há na lágrima
desses olhos meus
um resto teu...

pedacinhos insones
a levantarem mãos
em abertas criptas

e se vive esse pretérito,
não fenece em minhas iris
a saudade, sempre, tua

e se escorre-me em água, o futuro,
crava-me num concreto e infinito luto
um vazio presente sem rumo...

quinta-feira, 14 de março de 2013

poeto...

antes da letra
a pele

antes da palavra
a metáfora

antes do verbo
a verve

antes do verso
o poeta

antes da entrelinha
a poesia...

domingo, 10 de março de 2013

minto

e então, eis-me
rasgada em mentiras
cá estou a escrever, poesias

em esquecimento
não caiu tua doce saliva
limbo da palavra minha...

se sei, como sei
ludibriar-me com armadilhas
dessa lábia tua...

engano-me
permito-me caminhos
em invisíveis trilhas...

fio-me
em frestas, em preces
em versos,  em restos...

em minhas mãos
teço e teço, cega e sem tato
linhas e linhas vazias...

sexta-feira, 8 de março de 2013

contrações...

se me fizesse apenas útero
num manancial de contrações
expeliria palavras diuturnamente

quem sabe já o seja
e num cículo vicioso, de meus olhos
palavras grávidas, geste e sangre

geste e sangre

quinta-feira, 7 de março de 2013

círculos..

se eu desistir
e descer na próxima esquina
cascas intimas e minhas,
finja que não me conhece
passe por elas sua ironia,
corte aos poucos - meu corpo -
sorria...

e como se nada te dissesse
minhas voltas e idas,
sem mim, vista-se, prossiga
fico eu ao meio, nua
sem começo e fim
sem pele ou carne
caminho

segunda-feira, 4 de março de 2013

20



1.
quase estatueta
estuda o gato sua presa
arrepia-se a borboleta

2.
em guarda o felino
finge ser do sono sua sina
de orelhas em riste

3.
languidamente
pêlos e patas pela casa
destilam monarquia


sábado, 2 de março de 2013

veneno...

enquanto esconde-se a tarde
entre as sombras  deslocam-se
os olhos meus aos teus varais...

já não há entre os teus fios
palavras verdes em tons de mais
ou quase versos buscando cais

e aqueles nossos sóis
deitaram-se de costas, sem nós
adormeceram sem laços, sós...

nessa tua fuga em névoas
acinzentam-se minhas horas
suicidam-se minhas esperas

enquanto esconde-se a noite
ao som das tuas facas, enveneno-me
no teu silêncio que fala e fala...

sexta-feira, 1 de março de 2013

tempo...

o tempo tem me cobrado
em cacos, as horas que dele uso

o tempo tem me ofertado
navalhas, uma paga às minhas faces

o tempo tem me dito coisas
cortado aos poucos, o fio do meu umbigo

o tempo tem brincado comigo
como se dele fossem, minhas raízes

o tempo, ao tempo, sem tempo
líquido escorre, de mim, foge...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

sujo

onde latem os cães
mordem e moram manhãs
dores com gosto de maçãs

que dos cães
não é a culpa, sentem
relatam, feridas, sem cura

no uivo, onde o sol
surge, há o arranhar de unhas
lamentos à vidas que urgem

se das maçãs
é o engodo, do gosto
são as dores em vermelho

se dos cães
são os lamentos, da manhã
são as dores em carne nua

se do sol
são os uivos, das unhas
são as vidas que urgem

e surgem
e urgem
e surgem
e uivam

sujam-se...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

dos erros...

Porque andava cansada de mim mesma, resolvi me dar um tempo. Desci no primeiro ponto, à primeira página do dia. Entre as letras já escritas e àquelas a serem debulhadas, a dúvida: Contentar-me ao rodapé ou fechar de vez o livro. Não me caberia ouvir nenhuma outra pessoa, não me caberia nem ouvir a mim mesma.

Cansada, cansada de todas as minhas desculpas, de minhas letras, das mesmas músicas, da luta...
Nem ao rodapé, nem fechar o livro.  Fechar implicaria em reabrí-lo em qualquer momento. Ao rodapé, de joelhos,  espiaria ainda que não estivesse no meio da folha.

Já conhecia esse roteiro, já conhecia o desfecho. Bobagem insistir, em protelar o inevitável, ainda que fosse para alguns memorável  assinar o epilogo.

Mas, o livro existia, estava ali incrustado à minha carne, tatuado em minha alma. Se resolvesse folhear suas páginas talvez encontrasse algum trecho que tenha me passado desapercebido. O que acho quase impossível. Não, não adiantaria insistir ali entre as letras  acariciar, chorar ou sorrir.  Tudo terminaria no vácuo e sem eco. Novamente. Ideia mentecapta querer ler o que já havia escrito.
Não tinha esse vício. Não teria esse vício. Escrito estava, nem o tempo, nem os dedos modificariam os dias e as palavras.

Restava decidir-me em continuar nesse conto que ninguém aumentava um ponto ou desistir. Palavra de alto teor: desistir. Pensemos em  outra menos catastrófica, menos piegas, apelemos para um expressão em uso: "Mudemos o foco". Não desistir, mudar.

Mas eis-me de olhos fixos no mesmo parágrafo que em labirintos vai e volta, vai e volta, não solta-se, não sobe, não desce, não vive e não morre. Vai e volta. Esse parágrafo de uma nota só, toada em mantra, quase  um vômito a engolir de mim a vontade de chutar essas letras e seguir outra prosa. Como se pétala seca e sem cheiro  fosse estaquei em meio à folhas verdes, cheias de fungos e musgo e não me mudo. Espero, espero, espero... Ninguém aparece para debulhar essas páginas e derrubar-me ao chão livrando-me dessa incômoda paralisia do orgulho.

Lembro-me sem a nitidez necessaria de ter descido degrau a degrau  palavras antes desse encravado capítulo e em ato falho ( novamente desculpas esfarrapadas uso ) cá estou como uma mariposa debatendo-me de encontro a luz até que ceguem-me os desejos e queimem-me os erros. Maldito livro, maldito capítulo.

Não desço, não tranco esse livro meu, não guardo-me, não descanso em rodapés, desisto de mim mesma, dou-me as costas, dou-me o desprezo. Não ao espelho, não aos meus apelos. Desisto. Encalhei nessa lama desse drama. Nem portas, nem janelas enxergo. Minto e minto cada vez que digo que a luz no fundo do poço é minha. Tenho medo, acovardo-me, fujo. Não há em mim nenhum rasgo de dignidade que me impeça de entre as linhas de minhas fissuras plantar tantos erros... Leio-me, absurdos teço, não mudo o foco do texto.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

19

ouço no vento
as engrenagens  do tempo
rangendo os dentes

derrota

tem de mim o gosto da derrota
nessas minhas sobras, tão rotas
nessa minha língua, sem resposta
nesses meus olhos, absortos

são perdas, são pedras que carrego
amarro e não deixo pelo caminho
e em minhas costas despejo passos
em pretéritos em vias de parto

e nada fica, nada vai,  nada vem
numa vendaval mudo e estático
prendo-me em falsos casulos
afasto-me da água morta e limpa

e se morro de sede
embrulhada em minhas palavras
envenenados entre verbos  e frases
perecem os dias de minhas metáforas

amorroto meus sonhos
desgosto meu ventre
apago minhas cruzes
derroto-me...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

castigo

se eu não me mexer
se fingir que não vejo
talvez não doam e pereçam
minhas poesias e desejos...

se eu em estátua
em água verter-me
talvez salve  meu sal
e cicatrize meus erros

mas se teimosas
minhas palavras, trairem-me
e arrepiarem meu ritmos
desmancharei-me em vida

num esquartejamento dos olhos
serei minha carrasca, meu deboche
e no riso que lambe o chão que piso
deitarei minha alma, sem rimas...

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Disciplina...

Tenho pensado em deixar as poesias de lado por um tempo ou não dedicar todo o meu tempo a esse prazer  e debruçar-me sobre os contos e crônicas, algo mais concreto, menos lírico.  Falta-me disciplina, a mesma disciplina ausente em outras áreas de minha vida. Trabalhos manuais inacabados. Promessas suspensas. Gavetas abarrotadas de desculpas que já não aguentam-se sozinhas. 

Escrever poesias, poetrix, haikais é para mim um gosto, quase vício. Divago, não tenho regras ou metas. Simplesmente escrevo. Mas sei que são metáforas de minha propria vida. Essa vida que venho enrolando, que venho chutando pra lá e pra cá feito uma estrela que caiu aos meus pés, que pés? 

É  de suspirar essa minha dificuldade em sair do lugar e atrelar o tempo e dizer:  "Estou no controle, vamos." Sem que ele estremeça de medo de minha subjetividade. Mas cá estou entre um site e outro e comemoro, escrevi de madrugada sem ser um poema à insônia. 

Não, não, não estou desmerecendo as poesias. Estou  me policiando, começando por controlar minha compulsão pelos versos e estendendo-a outros textos. Acredito que seja um bom começo esse.
Num texto anterior escrevi sobre almejar algumas mudanças. Não esperarei  pelo aniversario. Ou tentarei não esperar. Fixar uma data ainda que não muito distante, parece-me que seja mais uma forma de protelar e adiar um movimento  para onde quero ir. Mais do que  crônicas e contos, preciso administrar-me com mais segurança. Não estar à deriva como tenho feito.

Estou tentando, estou tentando... Quem sabe um conto ou uma crônica por semana esteja de bom tamanho para que torne-me mais racional, mais equilibrada. 

É isso...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

eu sei...

eu sei do que ele gosta
sei das suas propostas
conheço suas respostas

eu sei, o que pensa
sei que não tem pressa
conheço dele, as mazelas

eu sei o que não posso
sei dos meus desgostos
conheço dele, outros rostos..

sabendo disso tudo
ainda assim não fujo
ainda assim me iludo

e sabendo que isso é pouco
ainda assim, dele, rezo o nome
ainda assim, dele, velo, o sono...

e a ele, lanço versos
mostro minhas estrelas
espero sóis e letras

e dele, pinço madrugadas
finjo outras cascas e palavras
sigo rastros, junto cacos...



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Dos pesos...



Mês que vem faço aniversario. Mais um. Só mais uma pessoa a acumular anos, a encher gavetas e a cansar a carne no dia à dia em que nos enfiamos desde que somos concebidos. Já tive dúvidas quanto ao momento em que passamos a existir. Hoje, sei que nossas vidas são vidas desde o primeiro minuto que deixamos de ser óvulo e espermatozóide para sermos um ser único. Desse ponto passamos por fases e mais fases, ciclos e mais ciclos até que deixemos a carne novamente. Esse depois, é misterio. Vejo, pressinto, mas certeza... Quem a tem?

Não gosto de datas comemorativas, Natais, Páscoas, Anos Novos... São fardos a carregar, fardos abertos nas datas aclamadas e embrulhados de novo. Trancafiados e longe dos olhos até o próximo ano. Pesam e pesam em armários já abarrotados de gritos, sorrisos, cobranças, desafios e tropeços...

Mas farei aniversario, mais uma vez... Se pudesse ausentaria-me de mim mesma nessas vinte e quatro horas marcadas em uma única data em meus anos para acordar e nascer mais velha no dia seguinte. Mas não será possível. Resta-me desde já começar a me programar e esvaziar esse fardo para que no ano seguinte pesem menos meus erros e meus lixos escondidos em minhas frestas.

Amamentei-me da vida, e eis, que por mais que debata-me sou o fruto de minha concepção, da concepção de outros e da concepção que agarra-se às minhas costas enfiando-me goela abaixo o que chamam de destino. Mas há coisas que posso fazer. Posso cuidar da concepção que meus olhos têm e algumas vezes não revelam-me do que faço, do que deveria ter feito, do que fingi que tentei fazer e do que realmente fiz. São minhas escolhas. Não há mais tempo para fugir do miolo de certas escolhas. Escolhas que de tão erradas estão a esfarelar-se na tentativa minha de salvar o que não tem salvação aumentando assim o peso de meus fardos.

Tão apaixonada sou por algumas dessas escolhas  erradas e obesas que desde já sinto fome e sinto o peso da abstinência, mas sei que são necessarias. Não cabem mais em meus porões o vômito  caído de minhas frestas sobre minha alma... A carne debate-se, mas essa minha alma precisa de um banho e de um regime. Quem sabe, sinta-se mais uma vez parida novamente... De olhos recém nascidos e limpos, sem máscaras.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

das secas...


em noites frígidas 
pedaços de palavras rasgam-se
e morrem, sem da poesia, ter abrigo...

domingo, 10 de fevereiro de 2013

rito...

porque de erros em riste
marcham minhas letras
fúnebres, com caras e facas
de poucos amigos, riem...

não as censuro,  faço
o mea culpa, absurdo
crer ainda nas palavras
que espasmam-se nuas

mergulhadas palavras
num tempo sem cura
numa crônica vazia
num verso sem rima

nessas palavras vadias
enredo-me eu em punhais
não os meus, os teus,
mais vis, mais viscerais...

e acordo dependurada
num fio de entrelinhas
sem sóis, sem rimas
equilibrista em ruinas...

sem quandos ou porquês,
despeço-me de minhas letras
ao suicídio, mudas caminham
sem eco, sem filhos e sem espelho...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

flagrante...

num lapso da saudade
recém costuradas cicatrizes
abriram-se em feridas...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

eclipse...

fecham-se os pássaros
fecham-se os sóis
fecham-se as vozes

lamenta o cão
a anunciada solidão 
travam-se as mãos

choram as lágrimas
pela poesia ainda
não amamentada

fecham-se as horas
fecham-se as palavras
fecham-se os olhos...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

flerte

entreolham-se as palavras,
 concreto e abstrato, 
     enlaçam-se...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

infinito...

os gritos que em nuvens morrem
caem em dormência nas portas
e das janelas  abertas escorrem

nesses dias em que tudo é misterio
nem telhados abrem-se  ao espelho
e tentáculos do tempo encolhem-se

há entre o céu e o inferno
estrelas penduradas em árvores
luas adormecidas em tardes

eram do ontem as esperas
são do hoje palavras e ressaca
paradoxos em mesmas horas

fossem das nuvens vivos sussurros
deitariam em redes de desejos
dias, meses, anos ainda in vitro

posto que são, mortos
nesse purgatório do tempo
eternos rastejar comem

infinitos joelhos, dobram-se
numa prece sem cor, sem volta
num cinza labirinto dos olhos...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

básico ...

preciso
de uma tônica
meio crônica

nada de poesias
nem expectros
incertos letreiros

não quero
versos, fingindo
ocultos espelhos

preciso
de goles retos
e gelo nas veias

nada de imagens
entrelinhas em
músculos vermelhos

não quero
metáforas, reflexos
ou catarses

preciso
do frio básico
de um descarte...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

03:16

três e um, bocejam as horas
entre as letras de lingua de fora
perdeu, o tempo, as contas
das palavras que dormem...

três e sete, marcha o silêncio,
esse que, num bate-estaca,
não pára e não volta, dá-me as costas
ignora a trava em meus dedos...

três e nove, nada se move
nem cama, nem travesseiro
sabem de meus versos, o vazio
as desculpas e o desprezo...

três e doze, madrugam-me
os ponteiros, num bocejo,
da poesia, desisto, não gesto
hoje, sou só, devaneios...

domingo, 27 de janeiro de 2013

20



é de maria o domingo
lágrimas santificam cinzas
numa triste vigilia

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

a mais...

escrevo
em tuas paredes
meus desejos
teus espelhos

arranco
da tua carne
teu cais
teus ais

tatuo
no teu corpo
meu gosto
teu  gozo

morro
em tuas mãos
um pouco mais
e quero mais...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ao sugo...

tenho sangrado absurdos
  nos quais cravo letras
       e copulo com o luto...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

nada...

em tantos
em prantos
em cantos

em olhos
nos dedos
tão longe

dos quases
em metade
em catarses

de passagem
em miragens
tão nada...

sábado, 19 de janeiro de 2013

esquinas

velam-me essas esquinas
de olhos tão fechados
e bocas escancaradas

onde quebro palavras
ouço passos e linhas,
e mastigo minha sina

não há no meio
de meus fios, ângulos retos
são curvas, minhas ruas

dedilho e não vejo fugas
essas que  escrevem-se
e mentem entre meus dedos

encaminho descaminhos
falta-me a dobra dos joelhos
falta-me espiar outros espelhos

velam-me essas esquinas
sem que delas mate as incertezas
sem que nelas sepulte, o medo

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

19




espalha o vento
o cheiro e a voz do tempo-
farfalham os sempres

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

chove....


tudo a esmo
tudo ao acaso
tudo opaco

choram tons
choram sons
choram passos

das janelas
são as horas
dentro do relógio

tudo ao longe
tudo esconde-se
tudo escorre...

Chove...

domingo, 13 de janeiro de 2013

sem imãs...

há esse querer
arrancar raízes
fechar dessas portas
fugas e  cicatrizes

de minhas costas
apagar passos idos
num rito de desdém
dó e dor de améns

há esse querer
enterrar facas e faces
em lenta assepsia
rasgar as entrelinhas

e de meus olhos
trancar  antigas ruas
num corte seco, cirúrgico
cegar dos versos, as rimas

sábado, 12 de janeiro de 2013

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

dos silêncios

cobre-me um fio de silêncio
e eu lado a lado com os gritos
prendo e engulo vírgulas

não há nos pontos finais
reticências, parágrafos
sequer um meio, uma parada

nesse casulo, teço parábolas
metáforas, engasgos e catarses
ecos ausentes, invadem-me

mudez que não cala, embala,
de dentro pra fora dos muros
nós  que pisam e ardem

e eu aquém da palavra
rasgo do silêncio seus trapos
rasgo de minha alma, sua face

e falo, sem que minha língua
seja ouvida, aos pedaços,
num fio de poesia, escapo...


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

via crucis...

desenham-me sinuosas nuvens
sombras em  desejada rua
são de meus olhos, essa chuva
água que minha alma, turva....

tão poucos são os caminhos
são tantos e tantos meio-fios
encostas que não tem início
em noites sem estrelas guias

desdenha-me o lado de fora,
teço sementes de ocas raízes
em minhas mãos finjo atalhos
nas ladainhas que nada dizem

tão grávidas são as palavras
tão estéril minha via crucis
em um ventre que gesta janelas
nascem e morrem, minhas esperas...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

dos restos...

sobram-me espaços
num sopro de quases
e saudades

dessas estações
que vêm, espiam
e não passam

num resto
de dia que não vinga
só fica e olhos apagam

tão minha e minha
palavra, não vai
e não vem, paira

afio-me em cacos,
entre feridas e linhas
suspiram-me hiatos