domingo, 13 de maio de 2012

Portas...


Arranhava a madeira dura e bruta. Lascou a carne muitas vezes nesse exercício de subserviência e foram poucas as vezes que aquela porta se abrira, infímas vezes para matar sua fome.  Sobrevivia a mercê das migalhas recebidas pelas frestas daquela alma tão caridosa...  Em dias de sorte um afago, um sorriso mais luminoso lhe enchia de esperanças.
Não se atrevia a deixar seu lugar, estava presa, presa àqueles farelos, o olhar fixo no mesmo ponto.
Um medo a impedia de olhar para os lados, atrás o vazio, à frente só existia a porta.

Ele confiante em seu poder, dentro do seu mundo deliciava-se com seus manjares e com suas aquisições adquiridas pela caça. Um predador vaidoso.  Vaidoso e cuidadoso. Mantinha ao seu alcance, uma, duas, três, mais e mais presas. Não era tão complicado. Muitas por trás de suas portas arrastavam-se em posição de devoção amorosa. Agendava sua atenção minuciosamente. Nada poderia dar errado.

Mas um belo dia transformou o egoísmo do seu sol em um buraco negro. A tempestade veio, veio o obscuro, o oco no fim do mundo. Ela, somente ela, dolorida e com frio, cansada de pedir que a acolhesse procurou outro abrigo. Ao girar seu corpo em outra direção, encontrou calor, luz e alimento... Num pequeno gesto, sem machucar-se, sem implorar, outra porta deu-lhe passagem, dessa vez iluminando-a por inteira. E ela,  viu-se plenamente acolhida e aceita.
Bastou  tão pouco, bastou ousar, bastou desviar o curso do seu olhar ...

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