domingo, 29 de abril de 2012

Imobilidade...












lágrimas
e saliva, derramam
 vida

estáticas
as mãos, enxergam
vidros

raizes
abortam dos ais,
 vícios

sem risos
a pele,  fenece,
em  vincos

tão triste
a alma, corta
os vínculos...



sábado, 28 de abril de 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Abstinência...




A palavra, abstinência, me remete a outra, vício.  Acredito que estejam intrinsecamente ligadas. 
Abster-se, deixar de fazer, renunciar a algo que nos dá prazer. Mas um prazer não necessariamente nos faz bem. É o caso das drogas. Prazer tão momentâneo de uma cobrança absurda e de um preço muito alto.

E assim são alguns amores. 
Amores que nos levam aos céus e nos mostram as portas do inferno.  São eles também vícios.
Benditos quando atendidos, malditos quando não recíprocos. 
O email que não chega, a hora que passa sem um telefonema. Um olhar atravessado quando juntos. Efeitos colaterais que ferem, que fazem viagens imaginarias pelo ciumes, pelas dores, pela falta de autoestima...

Quando esses efeitos colaterais são maiores, mais presentes do que qualquer prazer, do que  nossa paz de espírito, não sei, ou talvez saiba que seja a hora de nos desintoxicarmos. 
Ao espernearmos, ao vertermos lágrimas, ao quebrarmos nossos frascos,  o vazio nos espera...
Da renúncia à abstinência. Horas enganosas, nas primeiras, um certo alívio.
Uma esperança de esquecimento. Os dias completam seus ciclos.
Mas... Um cheiro, um gosto, um horario, uma música, um costume trazem a ilusão da volta, a ilusão de uma letra em conciliação... Nada, só o nada retorna.

Tal qual um viciado,  nada alimenta, nada satisfaz... 

Então fico eu a pensar, talvez seja o caso também de seguir os passos da abstinência por um dia, por mais um dia e por mais outro dia... Quem sabe, assim, esse vício chamado amor, adormeça em algum canto de nossos corpos e almas devolvendo o nosso equilíbrio.

Bem, para isso,  melhor evitar o invólucro, o corpo, a palavra, a alma que nos vicia... Ao menos por hoje, num sempre hoje.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

haikai 06










1.
na chuva que cai
o bocejo do felino
aquece o ar

2.
de gota em gota
marcado o compasso
solitário pássaro

3.
de bem com a vida
sua majestade o ipê
esquece o frio

domingo, 22 de abril de 2012

Passou...












se eu sou
já não era sem tempo
se eu fui, perderam-se
meus sempres...

não há volta
na hora derramada
não há prosa
na palavra calada

aos espinhos vindouros
dedico minhas pétalas
um paralelo na janela
e um voo sem asas...

sábado, 21 de abril de 2012

Do Fim...





- Achei que fosse diferente...
Murmurou ela olhando para as mãos vazias, vazias e desprezadas.
- Achou errado. Segui meu caminho.
Tão tácita foi a resposta que sentiu-se constrangida. Tão longe do homem doce que aprendera a amar, tão diferente da imagem por ela construída.
Suspirou tentando ganhar tempo. Sabia que fora esse o combinado, mas no fundo acreditava em vínculos além do tempo, além do espaço.
- Mas...
- Não tem mas, acabou. Minto... Não acabou, nunca existiu.

Eco, oco, ele destilando aquele ar de superioridade, ela no vacuo.
As lágrimas impediram de ler o resto.
Fechou as janelas para o passado,  deletou o coração com a borracha da decepção.
Quando voltou a  percebê-lo, havia um instinto de destruição entre seus dedos, sorriu perigosamente...
- Ok, aqui estão suas letras, seu conto.
Disse enquanto acendia uma chama em seus olhos. 
O medo passou pelo semblante covarde daquele que um dia lhe jurava amor e fidelidade. Amor? Nem três meses e já dizia amar outra. Três meses era seu prazo de validade, três meses afastados, três meses sem que rabiscasse sobre aquelas folhas, três meses esperando por aquele momento. E nada, era do nada o presente das palavras.
Rasgou uma a uma as páginas daquela historia e ateou fogo aos pedacinhos amputados sem dó ou piedade. O rosto de anjo como Dorian Gray foi transformarndo-se em algo horrendo, covarde, vil em meio às letras borradas pelo negro que nasce do fogo... Desmanchando-se em cinzas envenenou o ar com o cheiro de sua alma incinerada.
Fim.
Só mais um conto mal escrito, mal resolvido em meio ao lixo literario que se habituara a produzir.

Ciclos



ao sugo, vertem as horas
  brancas ou negras, num sempre,
                vida e morte, pedem...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Abstrato...













deixou o pó das letras
lá, onde as palavras
já não dizem nada...

esse gosto com cheiro
de saudades, ilusão
pelo caos pisoteada

nem quase, nem talvez
do concreto é feito
o teu descaso

uma lâmina cega
certeira, a tecer o fim
do abstrato...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

haikais 05


1.
é do indio o dia-
desculpas em amarelo
o branco envia

2.
bela hidrelétrica-
os pés que louvam a terra
suas ocas perdem


Maldade...











chegou num ramalhete
de saudades, abraços
e beijos enlaçados

estavam ali, carícias
à espera do meu sopro
ao toque de minha boca

estendi minha carne,
em troca do teu vício
doei meus gêmidos

pelas frestas do desejo
espiei teu olhos açucarados,
capturei teu escârneo...

não era minha a tua saudade,
era tua ausência a me assombrar
num gesto  de maldade...



quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Tudo e o Nada...




O desejo de me estabelecer ao nada, impera. Impera e vocifera. Um querer esquecer o universo, minha pele, meus dentes, minhas materia. Como se fosse possível caminhar rumo ao abismo sem arrastar comigo o cordão  que me liga ao umbigo do tudo. Esse meu tudo, tão vazio, tão sem sentido, tão luto...

Às minhas costas sinto o hálito das sombras que abandonei nos vãos dos medos, nos ombros o peso de minhas faces largadas à margem do acaso. Sem ninho, sem música, sem rumo, famélicas, esquálidas. Açoitam-me, cobram-me, cobras criadas, minhas servas, meus sangue-sugas, tão sujas... Faces, fases, quases... Nuas...

Elos a tecer correntes, a aprisionar a alma, a escravizar a carne. Não há fuga, há o limbo cada vez mais fundo. Do nada, não tenho o percurso, não tenho o prumo. O nada não me abraça, não me caça. Sou eu entre as grades do futuro, entre os passos sempre, sempre dentro dos mesmos muros... Nem meu uivo, ouço, nem meus cabelos teço, nem meus dedos obedeço...  Fantoche sou, bebo, me alimento, retiro a roupa, ao bel prazer dos segundos que me pinçam e me atiram no colo desse tudo. Toneladas de fios que me ligam ao utero do mundo...


haikais 04











1.
ainda com sono
nos ponteiros do relógio
boceja o tempo

2.
reclama o gato
um punhado de ração
café da manhã

3.
quase onze horas
esparramada na terra
abre-se em pétalas

terça-feira, 17 de abril de 2012

Decreto











  
 na lâmina do desprezo
a sentença, matar o amor
de fome e sede.... 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Insana Mente...














um instinto assassino
leva-me a perfurar letras
caracteres em sangue vivo
 meu alívio

torço e retorço o gume
de uma adaga imaginaria,
no ventre da palavra
em cólicas

tosco, um grito
corcoveando o dorso
dos verbos doma
a furia...

ato insano
feroz, desumano
a carne em versos
desmanchando...

sem piedade
bebo entranhas, a morte
entre meus dedos
comemora....


Escritora? Eu?



Há  dias venho pensando em como somos vaidosos e sem noção. 
Lendo Machado de Assis, me dei conta de como é medíocre o que escrevo e quão pequenas são as minhas letras para que eu possa ser chamada de poetisa ou escritora.
Por mais que sangre meus dedos, e sangro, alguns até me faltam, não tenho a pretensão de me colocar num cenario literario como escritora de qualquer segmento.

A profundidade que Machado, Camus e Dostoievsk mergulham deixam qualquer leitor de olhos vidrados e a pele em gotas. Envergonho-me de um dia ter acreditado que pudesse ter algum talento. No entando acredito que nesse barco que passei a navegar, muitos outros também tentam fazer a travessia.
Travessia entre o banal e o genial. Ledo engano.

A grande maioria como eu, nada mais é do que um grupo de aspirantes e admiradores das letras. 
Sei que posso ser presunçosa ou injusta ao emitir meu julgamento. Longe de mim estar aqui julgando ortograficamente ou gramaticalmente os blogueiros, os escritores que pululam sites e mais sites de literatura.
Mas, para mim,  somos quase todos iludidos por elogios nem sempre sinceros. 

Por isso optei por recolher minhas letras. Algumas de minhas palavras deixarei estendidas nos varais, até que de tão castigadas pelo ostracismo e ao relento se extinguam nos quintais que ocupei.

Fico aqui em meu canto solitario a destilar o veneno que corre em minha veias. Veneno que um dia não me oferecerá nada mais do que o fim, meu e de minhas letras. Veneno quimicamente dosado entre a dor e o dissabor. Se houve prazer, foi apenas para que um dia se transformasse em decepção e em deboche.

Hoje, eu mesma escarneço  dos meus escritos, munida da consciência latente da minha insignificância.

haikai 03











destemida,  a abelha
zumbe contra a vidraça
militarmente


Dor...












na dor, a carne
tem fome, nervos
e sonhos meus
morde...

convulsiono, tremo
labuto, é meu luto,
dentes afiados
escuto...

tão a esmo
arrasto correntes
vocifero, peço
silêncio

nada....
ninguém ao lado
são meus, os dardos,
os fardos

rasgada a paz
ossos e alma, em vão
o leito da lápide
imploram

no choro  da pele
o cansaço me assola
sem pressa a dor
devora-me...


domingo, 15 de abril de 2012

Prece












 na tristeza, uma súplica
   arrancar da alma
    a saudade, tua


As Brasileiras...



Já comentei em um outro texto a impressão que me causa esse seriado.
Como achei que ficou incompleto e não está postado no blog, vou discorrer mais um pouco sobre o tema.
Bem sei que trata-se de um programa lúdico e visa divertir de forma bem humorada seus expectadores.

Mas fico eu a matutar se quando reclamamos da imagem que nós mulheres temos fora do Brasil  não temos uma parcela de culpa, sim, pois aplaudimos e assistimos nossa imagem vinculada à futilidade e ao erotismo.
Ainda não assisti a um episodio que retratasse a verdadeira mulher brasileira. Essas que enfrentam creches, que são donas de casa, profissionais, choram e riem. São femininas, claro, mas sem deixarem de lado sua essência.

São tantos os perfis que poderiam ser retratados, desde o mais humilde ao mais ostensivo. Desde àquelas que enfretam as filas do SUS em busca de uma consulta àquelas que fazem de suas vidas o voluntariado.

Jovens que enfrentam uma rotina em busca de um futuro melhor nas faculdades, outras que nem isso conseguem mas que labutam pelo seu dia a dia.
Amantes, amorosas, sensuais sim, mas não apenas isso, não só isso. Não apenas futilidade e sexualidade.

O quê vejo em Brasileiras, é o estereótipo da mulher, longe de ser o retrato da mulher brasileira.


haikai 02


 








no dorso do sol
aproxima-se o crepúsculo
manto em arco-iris

haikai 01













solitario voo
triste um gorjeio nos céus
perdeu-se no ar

Da Espera...














rasguei o véu da noite
 na madrugada salpicada
por vultos e foices...

geme o hálito da pele
soluçando o sonho
que não veio

é do pesadelo
a pétala da espera
no vazio do peito...