segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
2013
Fico a pensar onde estarei nessa mesma hora e mês em 2013... Os fogos que lá fora comemoram mais um ano, mais um ciclo, deixam-me em dúvida, se a comemoração é pelo ano vencido ou pelo ano a vencer... Seja como for, quem sempre vence é o tempo, os ciclos abrem-se e fecham-se e acima deles todos e de nós o tempo paira como senhor de nossas vidas numa quase condescendência, num quase desprezo.
O ano de 2012 não protagonizou o fim do mundo como alguns acreditavam, mas, foi um ano marcante. Um ano em que findaram situações e começaram outras. Um ano de perdas, um ano de tropeços, um ano de passos lentos e intensos. Como se tivesse em seus pés correntes, grilhões a serem ceifados num esforço além dos limites. Não, não foi um ano diferente dos outros, há anos piores, anos melhores, há olhos que enxergam leveza e beleza em todos os ciclos, há olhos que só têm a escuridão, é o lado oposto da luz. Assim como tudo, sempre e sempre há um lado bom e um lado ruim, um leve e um outro pesado. Depende onde estamos, com quem estamos e como estamos...
Talvez eu tenha feito escolhas erradas vezes demais, talvez eu tenha esperado sementes de solos estéreis. E cá estou a fazer um inventario de 2012. Os números, as estatísticas, símbolos, 2012. A morte e a vida, o fim e o recomeço estiveram presentes nesse ano, muito presentes. Eu sei, não haveria de ser diferente, nunca é... Nós é que nos valorizamos demais, vêmos sombras em tudo, nos sentimos marcados por tudo. Mas fora, fora dos nossos umbigos existem outros universos, outros elos, outros frutos, lutas e luto.. Não somente as nossas luzes merecem e devem ser alimentadas por quem quer seja. Minha tristeza, alegria de outros. Minhas lágrimas, sede em olhos alheios.
Quase 2013, a ceia fica para o fim do ano. Quase 2013, as dúvidas seguem. Algumas darão lugar à certezas, outras serão enterradas sem solução... Quase 2013. Fogos, artifícios. Lamentam os animais tanto barulho, celebra os homens estrelas entre nuvens. É essa a vida, nem boa nem ruim, apenas focos e fogos diferentes a olhos tantos. Vem e segue seu caminho 2013.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
enfim...
do que me flagra
e sangra, são essas palavras
insanas de mim, em mim,
indômitas asas
num sonho ao avesso
revelam-me sem que delas
peça e meça ou medre letras
num tortuoso despejo
se sou casa, sou caça
sou de mim portas, janelas
camas, cadeiras, corpo
gosto e desgosto, esgoto...
do que me protegem
e escondem, são miragens
presas em mim, entrelinhas
em poesias sem fins...
e sangra, são essas palavras
insanas de mim, em mim,
indômitas asas
num sonho ao avesso
revelam-me sem que delas
peça e meça ou medre letras
num tortuoso despejo
se sou casa, sou caça
sou de mim portas, janelas
camas, cadeiras, corpo
gosto e desgosto, esgoto...
do que me protegem
e escondem, são miragens
presas em mim, entrelinhas
em poesias sem fins...
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
foice
visitou-me o Natal
não fez por onde nem quando
fincar pé em coloridos varais...
partiu num sopro
em passos largos e pra sempre
aquele que sem pressa, foi espera
revelou-me tanto desprezo
que minha sala deu as costas
ao vermelho sem respostas
sem preces minhas,
num presente caos
foi-se, sem fé, o Natal...
não fez por onde nem quando
fincar pé em coloridos varais...
partiu num sopro
em passos largos e pra sempre
aquele que sem pressa, foi espera
revelou-me tanto desprezo
que minha sala deu as costas
ao vermelho sem respostas
sem preces minhas,
num presente caos
foi-se, sem fé, o Natal...
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
saudades...
neste colo meu
mora-me um espaço
e daquilo que não há
brotam aflitas palavras
fossem carne
cada letra acasalada
nacos de mim, arrancariam,
os lençóis da madrugada
mas, são o que não são
e disso comem e bebem
esses versos, sempre
e sempre inacabados
e vivem e morrem
num frio de sede e fome
e de novo e de novo, brotam
a esperar pelo teu mome
e vivem
e morrem
e vivem
e morrem
de saudades....
mora-me um espaço
e daquilo que não há
brotam aflitas palavras
fossem carne
cada letra acasalada
nacos de mim, arrancariam,
os lençóis da madrugada
mas, são o que não são
e disso comem e bebem
esses versos, sempre
e sempre inacabados
e vivem e morrem
num frio de sede e fome
e de novo e de novo, brotam
a esperar pelo teu mome
e vivem
e morrem
e vivem
e morrem
de saudades....
sábado, 22 de dezembro de 2012
Fragmentos...
As células me doem, as células que insistem em viver. Acordei dezembro, bem sei. Perdi quem sabe uma quinzena entre o fim do malfadado novembro e esse mês que todo ano traz o pedido de paz. Preces, num sempre à maioria negada.
Não me mexo, as paredes brancas cegam-me. Há pelo quarto indícios de outras presenças. Não as vejo... Há agulhas, sangue e dor. Marejam-me os olhos. Bem sei do meu futuro se nele persistir. Bem sei que não há surpresas em natais, não há mãos nem olhos em vestes vermelhas capazes de milagres. Acordei e de sã consciência peço pelo sono do esquecimento.
A casa parece-me estranha. Foi um longo período para um mês. Foi um breve período para tantas mudanças. Deixei o hospital com a promessa de voltar. Não cai no esquecimento, infelizmente. E tantos e tantos outros novembros e dezembros viriam... Amargo o gosto do retorno. Há ainda aquele momento entre o sono e a realidade a me levar e levar pra longe onde tudo vejo e observo, mas lá não me querem e desço e desço...
Mas, há em mim um ser que tudo navalha e que de tudo debocha, observo tantos olhos, tantas vozes a me visitarem. Ao fitá-los pergunto-me sentirão pena ou alívo? Alívio, um alívio camuflado de bondade. Dirão aos seus inconscientes: Não foi comigo, melhor assim.
E com o passar dos dias virarão as costas a esquecer de natais e anos novos. Esquecerão de leitos de dores que não são nem nunca serão seus. Bem sei...
- O que quer ganhar de presente de Natal? Perguntam-me.
- Nada.
- Livros?
Penso melhor e aquiesço, livros são sempre bem vindos.
Sinto um desassossego além do limite no ar. Fecho os olhos. Ainda as dores só me fazem pensar num presente: "Não sentir dor". Não entenderiam. Não estaria ao alcance de ninguém.
- Está dormindo?
- Não.
A inquietude aumenta, percebo que há algo a ser dito. Fito o vazio. As paredes de ontens, hoje, parecem-me paredes de um cárcere, evito-as. Num gesto com as mãos, mãos ainda marcadas e coloridas de roxo, indago o porquê das reticências.
- Suas irmãs irão viajar - Respondem-me.
- Pra onde?
- Praia.
Tento me mover, não consigo, as dores aumentam.
- Ele deixou?
- Sim.
Uma simples palavra, uma simples resposta e me vem à mente uma vida, não tão longa, mas já pautada pelas privações. Nada de passeios, nada de natais, nada de nada.
- Que bom pra elas.
Droga, odeio que me vejam chorando. As lágrimas insistem. Não posso escondê-las ou me trancar em um porão de mim mesma.
- Entenda, ele mudou. Eu mudei.
Egoísmo meu, egoísmo. Engulo a revolta, tranco à sete chaves todas as palavras que gostaria de cuspir e vomitar no chão ali diante de minha realidade.
- Seu acidente... Ninguém teve culpa.
- Eu sei.
- Muita coisa foi tirada do lugar. Não pensamos como antes. O sangue...
- Quantas foram?
- Não sabemos ao certo, talvez quatro ou cinco transfusões.
Silencio-me, gostaria de ficar sozinha. Não fico. A voz continua. Meu egoísmo cega-me.
- Mas antes da viagem haverá o Natal. Teremos uma ceia. Seu namorado virá.
Desespero-me, desde as ferragens a nítida sensação que perderia também o namorado, ele me deixaria, estava escrito. Ceias para quê ceias? Eram proíbidas todas as ceias, todos os ritos. Pecado, diziam-me. Amar a Deus sobre todas as coisas. Coisas, não concebo, não consigo achar palavra que substitua, coisa. Tudo são coisas. E Deus deveria ser maior do que essas coisas. Tantas e tantas vezes indaguei, coloquei-me contra, argumentei. Não havia ouvidos, não havia espaço para dúvidas. Faltava-me a fé, diziam.
- Comemoraremos o quê?- Pergunto num to jocoso.
- A vida.
- Não é tarde pra isso?
- Está viva.
Viva, estou viva.... A que preço? Em troca, uma ceia de Natal, uma viagem que nunca será minha.
Malas a serem feitas, alimentos a serem preparados. Ouço a babúrdia, risos, correria. Cochichos.
Tão amarga é o gosto da água que me servem. De espinhos feito meu leito. Há fagulhas a queimarem minha carne mutilada, há o sangue de outro em minhas veias. O meu sangue, o meu... perdeu-se, escorreu rumo ao precipício de mim mesma.
- Como está?
Não sabia ao toque quem seria. Não sabia da voz o sorriso, a lágrima ou o escârneo.
Mas identifiquei a sombra masculina do outro lado do telefone antes de fornecer minha resposta. Foram muitos anos desde a primeira ceia, mutos anos num quebra-cabeças sem fim.
- Bem, estou sempre bem
- Te admiro por isso.
- É mesmo?
- Claro, tem dúvidas?
De mim só um suspiro impaciente conseguiu arrancar.
- Quantos anos? - Continou -
- Faz diferença? Olha,estou ocupada. Véspera de Natal.
- Desculpe. Pensei em pedir desculpas.
- Desnecessario.
Desligo o telefone sentindo calafrios, rios de lembranças invadem-me. Só mais uma perda, só mais uma. Foi-se com a primeira ceia, foi-se a ilusão. Não posso e não devo chorar.
Todos à mesa. Inclusive o pobre e infeliz porquinho. Faltava-lhe a maçã. Bobagem, mais uma bobagem. Bobagens necessarias. Crianças felizes, adultos a tecerem comentarios , uns inteligentes outros nem tanto. Noto o esforço, a competição ainda entre irmãs, os filhos, os planos de fim de ano. Outras viagens. Nada mudou.
- Ainda tem dores? Não me parece bem - Diz-me uma de minhas irmãs ao notar meu gesto de impaciênca com meus pensamentos.
- Estou bem, dores só as fantasmas. Mas fantasmas não me assustam.
- Nunca assustaram - Uma outra irmã afirma.
Não gosto de ser o centro das atenções. Antes que voltem ao meu passado, melhor retirar-me. Tento levantar-me e me impedem...
- Sabe que se não fosse seu acidente as coisas teriam sido diferentes. Para pior - É a vez do irmão mais jovem opinar.
As coisas, sempre coisas. Sinto-me inquieta, ingrata.
- Foi há tanto tempo, teriamos contornado de um jeito ou de outro nossos percalços -
Peço licença, afasto-me.
Sozinha, como sempre fui e talvez sempre serei, penso em todos os natais, penso no dias que foram-se, nas pessoas, nos sonhos, nos milagres inexistentes. Penso no sacrificio de Cristo, na carne e no sangue... No sangue... Sangro.
expectro...
inquieta noite
que mãos penetra
em sempre ontens,
quase hoje
lança-me
frases apagadas
e minha face
navalha...
não fossem
ontens, um nada,
não sangraria, eu,
tantas palavras
sabe a noite
e como sabe,
descamar
minha carne
ah, meros
queros, pele
pés, joelhos
pretérito...
meros
sempre meros
nunca olhos
nunca elos
segue a noite
sigo a noite
só, cega
in ...versa
que mãos penetra
em sempre ontens,
quase hoje
lança-me
frases apagadas
e minha face
navalha...
não fossem
ontens, um nada,
não sangraria, eu,
tantas palavras
sabe a noite
e como sabe,
descamar
minha carne
ah, meros
queros, pele
pés, joelhos
pretérito...
meros
sempre meros
nunca olhos
nunca elos
segue a noite
sigo a noite
só, cega
in ...versa
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
livre...
há amores que pesam
há os que pecam
há os que choram
há amores, diversos
em linhas, entrelinhas
em prosa, em versos
há amores profanos
que zombam e santos
nem pouco, nem tantos
há no amor espera,
um tango, uma despedida
epitáfio sem flores
há, e não quero
um quase amor mentira
agarrado em meus ombros
aborto e não ouço
das sombras e escombros,
o grito dos olhos...
parto-me, vazia,
sem amor, em prantos
mas livre...
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Oras...
passam por mim
tão senhoras, as horas
que de seus olhos
os meus fogem...
são segundos
em viadutos, soberbos
rasteiros, portais
agudos ponteiros
já não me desfolham
como antes, ignoro-os
lanço aos céus
pupilas e apelos
e se me disserem
volte, à senhora
e seus escudeiros
respondo, não...
a madrugada é minha
tão longe, tão fora
voa minha alma
de poesia nas mãos...
sábado, 15 de dezembro de 2012
acaso...
amanheceram meus pensamentos
com lágrimas por dentro, ao certo
ao errado, esconderam a face
já tão amarrotadas e cansadas
esqueceram de mim, as palavras
os versos, os poemas e as poesias
havia somente essa água
inundando as portas das horas
ainda manhã, ainda entrelinhas
e essa ferida sem nome, com fome
a devorar de mim teus olhos
sem sóis, só brumas e nuvens
cega a tatear da dor, o abstrato
refém do que não sei, do que não vem...
rendo-me ao acaso, amém, amém..
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Lápide
Há essa lápide feita e esculpida e lanhada à lápis. Lápis ferino, mais fundo olho, mais fundo vejo do lápis o escârneo. Como se tivesse vida, lápis. Não havia de ser outro instrumento a cavalgar esse meu coração vazio. Estranho cinza que me cega, que me carrega, agora. Ontem não. Ontem havia rabiscos. Bobagens escritas, bobagens de tamanhas mentiras.
Mas hoje há essa lápide, onde corro os dedos e esfrego a pele em busca de alguns riscos, de alguns risos. Bobagem, tudo que li e pensei ouvir foi feito à lápis. Não menos não mais, só promessas, alvas nuvens, vácuo.
Dia à dia, escrever e apagar, escrever e perecer. Quanto mais procuro o rosa dos lábios, mais encontro os farelos do lápis. Não, minto. Encontro vácuo e precipício cavucados com o lascivo lápis que só fez e fez desenhar miragens. Riso, riso meu. Debocho eu, sim, debocho eu de minha insensata meninez fora de hora.
E era aquele caminho parecendo cartilha, parecendo ladainha entre meus olhos e tuas imagens Fez que fez e conseguiu em minha tez, agora sim, tuas malditas grafias delinear linhas. Fizeram a tarefa de casa, mãos, dedos e lápis. Não sei se meus ou teus, se só teus, se só meus, foram tantos delirios. Não o culpo, mas te refugo. Mal, mal, folhas e folhas sem cor, vazias, somente marcas e farpas. Nada ficou dos sonhos, nada restou, apenas fissuras secas e sem vidas, fissuras.
Lápide de uma escrita à lápis.
domingo, 9 de dezembro de 2012
incertezas...
moram em mim tantas incertezas
que sem toalhas ou versos na mesa
vertem de mim, tempo e espelho
e tanto doem os meus segredos
os cadeados e essas dúvidas
que sou deles, o elo e o fruto...
enquanto fujo, enquanto luto
mais e mais engravido medos
mais e mais aborto estrelas
e eu, covarde
engasgo, engulo...
nesse céu que não se move
onde nada é nada e tudo é mudo
sigo a cultuar em mim tantas noites
sem que eu possa dos absurdos
escolher tardes ou luzes
moram em mim tantas perdas
sem que meus olhos, possam vê-las,
e enterrá-las no escuro de minhas letras
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
das impossibilidades...
te daria o passeio
de meus olhos por tua boca
se assim, não fosse
meu corpo, de outro....
de meus olhos por tua boca
se assim, não fosse
meu corpo, de outro....
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
prece
se são ainda verdes
as minhas preces
peço que prepares
sua terra ao pé do ouvido
e receba quando palavra
a poesia minha, ainda letra
e dela morda e beba, um naco
um pedacinho de minha essência
deixe que pincele de arrepios
essa sua nuca de quases e nuncas
permita-me sussurros e gêmidos
num passeio que ainda não veio
se são ainda verdes
os meus desejos
peço que prepares sua alma
e acolha meus devaneios...
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
sábado, 24 de novembro de 2012
se...
se eram do tempo
as facas da saudade
eram das mãos, letras
palavras inacabadas....
se era da agonia
o fio de um quase
era do sempre
o nunca aos pedaços
se era da ilusão
o feto ainda vivo
eram do desprezo
sonhos assassinados
se era para ser
menos do que um esperar,
morreu antes de nascer
aquela poesia no ar
o feto ainda vivo
eram do desprezo
sonhos assassinados
se era para ser
menos do que um esperar,
morreu antes de nascer
aquela poesia no ar
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
sábado, 27 de outubro de 2012
devaneios
então vislumbro pelos becos
o cheiro da tua poesia ainda em berço
essa mergulhada nas taças dos teus olhos
fugidios versos a bater em janelas
pedem-me um trago à menina que escondo
ofertam-me aos dedos verdes, um pé de frases
perambulam-me na pele, palavras
emprestadas de teus labios grávidos
ávidas palavras com fome de toques
e não fossem minhas ruas sem saída
escaparia de mim uma poesia pelas frestas
brindaria a ti em festa, em líquida orgia
sinto o cheiro do teu cio em branco
lavam-me chuvas, não minhas
escorrem teus céus em quases
esses quases, fantasmas meus
quases, a um passo, a uma lingua
mas... são da lua, teus ais, tuas fases
e eu sinto, só sinto o aroma teu
o arrepio da tua poesia que anda
que passa, e nunca em mim pára...
domingo, 7 de outubro de 2012
16
1.
voto sim, voto não
são tantos os candidatos
e uma decisão
2.
outubro das urnas-
mil panfletos pelas ruas
sujam olhos e mãos
3.
títulos ao sol
marcam o tempo nas filas
é dia de eleição
domingo, 30 de setembro de 2012
Não e não...
não visto mais teu encanto
não sou dos teus olhos, o pranto
não é minha a mordida
dessa tua saudade em riste
dói-me o pensamento que cuspo
e em mim ainda, mora e persiste
não visto mais tuas mãos
não sou dos riscos teus, delirio e grito
dói-me saber dos teus versos
o sumo, o suco, escombros e o inverso
não é meu o miolo da tua ferida
onde moram teu sol, tua terra e tua lua
não visto mais tuas saídas
não sou eu, teu vício, tua lida, tua poesia...
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Cansaço...
cansada
da pele
em pétalas
dos nós,
nos pés
cansada
do pó
nos sonhos
das dores,
nos poros
cansada
do rosa
in feto
dos solos
sem flores
cansada
dos sóis
em anzóis
dos versos
em avesso
cansada
das letras
em sangue,
no silêncio
dos dedos...
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Ecos...
havia mãos a sangrar
e sagrar o minuto faminto
olhos e tez do tempo
do que escorria
dedos em branco e negro
lágrimas em elos
tão pouco era pele
tão pouco era matéria
tantas eram as pérolas
só, de joelhos , alma
só, sem caminhos, nós
só, somente só, pó
arrancadas as garras
marfim sagrado, sedento
amaldiçoando momentos
benditos todos os dentes
benditos todos os ritos
santificadamente malditos
havia de colher
dores penduradas em folhas
nas linhas no avesso do espelho...
de um purgar ventre
abortar a carne tecida, vadia
parir e ouvir sinfonias
mel, dias, melodias
arias e sóis menores distantes
sonhos, ecos de um sempre...
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
16
1.
tem sede a noite
num setembro tão quente
a água faz falta
2.
na ponta dos pés
busca tocar as estrelas
a menina dos olhos
3.
pata à pata
trevos de cinco folhas
desenha o gato
sábado, 1 de setembro de 2012
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Sem eco...
há a falta
no meio da letra
engasgo
dos dedos
salivam
palavras em vão
nos vãos,
dos desejos
sem janelas
ferem-me
as trincas
garganta adentro
não fosse
do silêncio
as vestimentas minhas
rasgaria linguas
dessas tantas
que torcem
retorcem a carne
e nada dizem
minhas,
tão minhas
línguas sem ecos
sem rimas...
sábado, 25 de agosto de 2012
Desencontros...
e assim
famélicos
meus gestos
abstinência
ingerem...
um, dois
três versos
sem nexo
indigestos,
espero
na linha
sem vida
poesia
meus dedos
ensaiam...
ao acaso
verbos
palavras
perdem-se
no espaço...
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
15
1.
esticou cabelos
em meio ao muro branco
um verde tem sede
2.
piam os pardais
na inquietude da seca
são duras as penas
3.
tão quente o dia
esqueceu-se do inverno
o senhor do tempo
Agonia...
era torto o riso indefeso
e a madrugada de olhos acesos
queimou sem medo mãos ao avesso
do que foi, do que passou
nada, só nós entre os dedos
só pó no caminho do meio
restava vestir-se de versos
sentar-se na porta da poesia
fingir e fingir uma dor alheia
na espera do que não veio
no degrau de tantos defeitos
beber e vomitar devaneios
foi a esmo todo um dia
tão prolongado por uma vida
do batismo à morte, um só suspiro...
agonia...
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Gritos...
tenho lanhado meus sonhos
nessas vestes de sóis ilusórios
do amarelo, só o riso e deboche
faróis a cegar da alma, os olhos
ao exibir minhas vísceras
abro em flor minhas feridas
pétala à pétala, dia à dia
bebo dessa carne, os gritos...
nessas vestes de sóis ilusórios
do amarelo, só o riso e deboche
faróis a cegar da alma, os olhos
ao exibir minhas vísceras
abro em flor minhas feridas
pétala à pétala, dia à dia
bebo dessa carne, os gritos...
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
domingo, 29 de julho de 2012
14
1.
é tanta chuva
a rasgar a pele das nuvens
banham-se as ruas
2.
de pingo em pingo
uma música na janela
molha o domingo
3.
fome, frio, arrepio
um corpo sem agasalho
lá fora, chora
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Erro...
porque era tão e tanto
já não bastava caber-se
era preciso evadir-se
o medo da voz
o medo das mãos
o medo dos olhos
em mordaças de aço
encobriram-se as palavras,
nenhum passo atrás
não ouvir o apelo
não ouvir veias, castigar a face
em todas as frestas
porque não era uma
partiu-se ao meio, surda
do carinho ali, aos gritos
perdeu-se, sem retorno
do gelo, areia a esmo
ao vento, esquecida...
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Resgate...
eu quero uma vida
só minha, juntar os fiapos
dos dias, limpar o chão
abrir e varrer os porões
e ao sol que boceja
escancarar minhas gavetas
mãos estendidas feito rede
quarando de vez os segredos
eu quero uma casa
de letras, tão cheia de sinais
consoantes e vogais, talvez
reticências, sem pontos finais
e de dieta, em plena lua cheia
rasgar das paredes os medos
estilhaçar todas as telhas
cuidar e embalar poesias
eu quero uma alma
que em nada se encaixe
deboche de minha imagem
e por fim da carne, resgate-me
sábado, 21 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
Encostas...
de um quando infante
engatinham em meus olhos
sombras de um antes
desses que mostram-se
e escondem-se... namoram-me
pensamentos
brincadeira de criança,
batem-me e assopram-me
gostos entre os dentes
desconheço das janelas
o lado de fora, só é tato
a pétala do acaso
depois do instante
vestido de quases...
lampeja-me o medo
num canto qualquer
resguardo meus achos
encosto palavras....
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Nuvens...
caem-me aos cântaros
todos aqueles desejos
vêm, descem dos céus
como chuva de janeiro
é inverno, toda a lágrima
um dia mágoa, sem desculpa
de gelo minhas mãos, circunda
sem desculpas, minha culpa
e nada, nada diz a lua
cúmplice das nuvens
em um quarto de fases
esconde a bela face
doi-me o silêncio,
dói-me a palavra presa
nesse anzol de águas,
sem sol, só nuvens...
dói-me esse nunca,
dói-me a nuca
arrepiando cabelos
aos olhos do desprezo
caem, desmaiam,
desconhecem-me
falecem os desejos
nuvens, só nuvens...
sábado, 14 de julho de 2012
sexta-feira, 13 de julho de 2012
tão pouco...
um pouco de tudo
nesse fim de mundo
confins de confissões
caricatas e absurdas
na ponta da agulha
nem fio, nem olhos
só um pedaço do nó
esquecido pelo pó
lanhada, temperada
ao sugo, verte a flor
tolices, achando ser cor
a névoa de sua dor
mesmices
querendo ser semente,
um solo sem estrelas
estéreis dedos, riscam...
megalomaníaca, a letra
pensando ser do sol, a lua
derrama seu resto de vida
sobre o véu da poesia...
um pouco de tudo
nesse fim de mundo,
confissões, tolices
bobagens, catarses
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Acho...
dos labios
ao umbigo
floresce
um caminho
dos olhos
à nuca
andarilham
gêmidos
das mãos
ao coração
poetizam
paixões
das letras
às estrelas
mero acaso
eu acho...
segunda-feira, 9 de julho de 2012
12
1.
um par de sapatos,
pedem as mãos ao inverno-
ainda têm fé, os pés
2.
garoa na vidraça
olhos e coração, embaça-
nem tudo passa
3.
num pentagrama
do dia se despedem os pássaros
triste é a prece
domingo, 8 de julho de 2012
Eras...
era das uvas
o sabor do dia
cascas e chuva
era do vinho
o cheiro das horas
instantes, pele, colo...
era uma era
ao alcance dos olhos
escorrida e já morta
não importa...
era o grito dos versos
em meio às trevas
uma poesia ainda quente
no gelo verde das eras
tão amarelas...
erraram as eras
não importa... havia o beijo
das almas em meio às letras...
sábado, 7 de julho de 2012
Basta...
se conheço dos sóis
os gestos de desprezo
vislumbro nas cores do dia
o instante de um "chega"
naqueles torrões de terra
onde em água-viva tive pés
colhi nos sonhos das margaridas
a tristeza de uma flor sem fé
não é das mãos a dor que escorre,
ou das trilhas solitárias em desdém
a agonia das letras recém caídas,
são dos sonhos, dor e agonia
sonhos que ferem, machucam
arrancam das pupilas, o riso,
ferem e brotam em palavras virgens,
cálice, prece, coágulos, missa...
é hora do basta
um não aos sonhos
uma lápide aos olhos,
renúncia e sacrifício....
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Segredo
o quê sabe
de minhas metáforas
o quê enxerga
em minhas palavras
há de ser, nada....
cegos véus
de meus eus, olhos teus
aqueles que não me leem,
mas insiste em tua alma
a minha procurar
o quê mastiga
de minhas letras
o quê engole
de meus versos
há de ser, espera
esses círculos
essas esferas
vícios meus, minhas feras
mãos sempre em cio
sempre tua, a poesia
o quê presencia
de meus arremedos,
o quê escrevo
nas entrelinhas
há de ser, segredo
Teias...
em restos, teço-me
desembaraço a pele
embaraço-me em teias
estendidos rituais
aos punhais e à lua
alinhavo minhas veias
tão dentro de mim
descasco horas, sem fome
sem nome, esqueço-me
aos meus porões
arrasto letras, verdes
e maduros segredos
medro, meço-me
tessitura, textura
fissuras
gotejo
enlouqueço
escrevo...
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Palavras...
o quê me inunda
são as pedras desses muros
pedras brutas, espiãs
em águas turvas
diz-me a pele
das rosas desse cárcere
um cultivo de espinhos
à olhos nus
se é na carne
das letras, na dor
o espasmo dessas águas,
nego-me aos versos...
pedras, rosas,
pele, espinhos, olhos
são palavras, apenas
palavras...
domingo, 1 de julho de 2012
Só...
jantando gêmidos
aqui e ali, habitei
cansaço
tantos cacos
fincados em pratos
mastigando amanhãs
não, não quero mais
os versos nas pontas
dos garfos
a beira da estrada é minha
deixo a mesa, as facas,
a fome e a sede
em mim, encaminho-me
não te sirvo, sigo eu
sozinha...
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Cárcere
num cárcere de letras
sonha a carne minha
tocar no fio do espelho
o doce gume da poesia
do etéreo, desejo sins,
já não importam-me os pés
nessa fuga de minha terra
corto caules, corto elos
ilusão dos ombros meus
carregar entre as sombras
o sopro daquele poema
ainda feto, ainda infecto
ao fogo de tantas lágrimas,
insisto, nada existe, nada resiste
farta a palavra entre os dentes
num grito mudo, cala-se, espera
só mais um passo
só mais um corte
enfim deixar o cárcere
matar da poesia, a carne....
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Cismo...
cismo
ainda
com as cinzas
um ir
e vir
gritam..
cismo
ainda
com as rosas
um ir
e vir
brotam
cismo
ainda
com o desdém
um ir
e vir
além...
cismo
ainda
com as rezas
um ir
e vir
esperam ...
Entrelinhas...
ronrona entre as paredes
estranha inquietação, nua,
palavras mudas de mim escoam
sem respostas, sem eco, ocas...
das bobagens minhas
não escritas, tantas poesias a ti
minha alma entoa, geme... suspira
bo ba gens, não ditas, malditas
eu sei, não sabe você
dos nossos laços, nossa morada,
nos versos meus, tristes bastardos,
não ouve você, o meu chamado...
se te acolho, te abraço
é nesse espaço onde não te acho
não há aqui o medo do deboche
esse que imagino em teus olhos
nas letras que lanço num céu de acaso
sonham meus dedos tocar tua face,
as dores do teu cansaço... essas
em minhas entrelinhas, afago...
segunda-feira, 25 de junho de 2012
É inverno...
é inverno, minhas células nuas
escamas, derramam em favos
um frio nas mãos, nos cabelos
e essa água entre os olhos
nenhum pedaço de pano
nenhuma ranhura no gelo
é inverno, mantas de orvalho
ruas, faces, luas, inundam
ao invés de flores, lenços
nos bolsos, o inverno dos dedos
encolhidos, retraídos, escondidos
do toque, só o desejo em casca
é inverno, um leito de desdém
estendido, branco, limpo e agudo,
cabisbaixa à espera de um abrigo
minha poesia, em pétalas, mingua...
domingo, 24 de junho de 2012
É dia...
é dia de recolher palavras-
expostas... sem saliva secaram
sem olhos, sem respostas
é dia de mascarar feridas
se em sangue vivem, delas bebo
numa taça de vinho, já morta
é dia de esconder a face
um basta ao escârneo do retrato
aquele, onde escondo minha imagem
é dia, escuro, um sol cinza
no amarelo dos dedos, um riso finge
malvado, faz das réstias, suas facas...
é dia, é dia, é dia, ainda
que todas as minhas células
gritem que não, é dia ...
sexta-feira, 22 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Feto
doem-me a cabeça
a garganta, músculos
e visceras
no utero do dia
ainda mal formado
rebela-se o feto
indigestas palavras
servidas à mesa
envenenam meus versos
tão pouco peço
uma pedaço de folha
um lápis, uma janela
menos ainda me cedem
sequer um metro quadrado
de sonhos e sossego...
dói-me a carne
dói-me a verve
aborto meu feto...
terça-feira, 19 de junho de 2012
12
1.
num quase inverno
um fechar portas e janelas
engana a pele
2.
olhos alongados
pelos buracos da noite
fogem os gatos
3.
silenciam-se os pés
só o burburinho das mãos
toca o coração
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